- @rgpatrickoficial
Laços - Capitulo 62
O hospital ficava até que perto aqui de onde estávamos almoçando.
Vocês sabem que acontece quando um policial é hospitalizado, todo o local é cercado pela polícia, esperando notícias. O que aponta também a gravidade do ocorrido.
Quando cheguei, os meninos batendo continência contam;
- Que houve?
- Assalto a mão armada, a vítima foi ferida, na enquadra do suspeito, ele bateu feio em um carro.
- Meu Deus. Conseguiram ver ele?
- Não, mas não está bem.... Entra, o Capitão está aí.
- Valeu.
Na sala de espera e sem nenhuma notícia, sua família chegou depois de um tempo e sua mãe era uma senhora, muito velhinha, vendo o sofrimento dela, eu tive que atrapalhar o Artur.
Liguei e falei com ele que tinha amigos no local, para saber notícias.
Foi desligar o telefone, e o tempo de pegar um café, vem corpo de médicos falar conosco;
- (...). Sim, ele sofreu um grave acidente com várias escoriações, e quebrou a perna em vários locais, estava em cirurgia. Mas a senhora pode ficar calma, ele está medicado e a caminho do quarto nesse momento, logo poderão entrar. – O médico fala segurando as mãos dela.
Depois de algumas horas com a família dele lá dentro, podemos entrar. Eu e o capitão.
Ele não poderia falar muito, quando entrei ele estava com alguns aparelhos, a perna esquerda toda enfaixada e para cima, Matheus estava imóvel.
Segurei em sua mão e percebi que havia escoriações no rosto, e nos braços, ele se machucou bastante;
- Ele foi pego, está preso, já falei com o juiz e estipulei uma ótima fiança para conseguirem retirar ele da cadeia. A corporação está preparada para o que precisar. – O capitão fala ao seu lado.
- Obrigado. – Ele fala com a voz bem falhada, era possível sentir as dores dele.
- Falei com Artur, ele vem aqui pela manhã, conversar com amigos, e te visitar, o que precisar estaremos aqui, o que eu puder ajudar amigo. – Aperto sua mão.
- Isso não teria acontecido se estivesse lá tenente. – Ele diz sorrindo.
- Você foi demais, parabéns. – Falo carinho em seu cabelo.
A enfermeira pede que saímos, para ele ser medicado, eu disse que voltaria no dia seguinte.
Nos corredores indo embora, eu peguei o celular ligando para o Artur pois já estava a noite.
- Tenente posso falar com você? – O capitão segura em meu braço.
- Sim, senhor.
- Bem, eu iria esperar, até o fim da semana, mas acho que na ocasião é algo que você deveria saber.
- Aconteceu algo?
Ele tira a boina, e passa a mão em sua barba;
- Eu serei transferido Marcos, irei para Brasília.
- Mas aconteceu algo senhor?
- Na verdade sim, minha filha passou na Federal e minha mulher não quer deixar ela. Eu vi nisto uma forma de também mudar um pouco.
- Parabéns senhor, fico muito feliz, de coração. – Eu abraço ele.
- Obrigado! Obrigado! O Major pediu que eu indicasse alguém, de dentro da corporação. Respondi que não havia pessoa mais qualificada para isso que você...
- Como assim?
- Será condecorado como Capitão Tenente Marcos.
- Isso é brincadeira? – Falo com a cabeça pegando fogo.
- Será o novo Capitão da Policia Militar de Goiânia. Capitão Marcos Lustosa dos Santos. Meus Parabéns. – Ele pega em minha mão.
Ah eu comecei a chorar, meu Deus;
- Muito obrigado senhor.... Não sabe o quanto isso significa para mim... Meu Deus. – Aperto ele novamente.
- Na verdade eu sei sim Marcos, você e sua família merece.
Limpo as lagrimas do rosto e a única coisa que sabia falar naquele momento era “Obrigado”.
Que vontade de contar ao Artur, meus filhos, caramba. Fui embora daquele hospital praticamente flutuando.
Quando cheguei, mal estacionei o carro, logo que entrei, Alexia estava na sala com o Artur, ambos bebendo vinho e conversando;
- Não vai acreditar no que aconteceu. – Falo fechando a porta.
Ele olha e ela se vira, por estar de costas para a porta;
- Mas gente não foi no hospital ver o Matheus e vem feliz assim? – Artur diz.
- O capitão estava lá... Amor, ele vai se mudar e me indicou como nosso interino.
Ele faz uma cara séria;
- Não brinca com isso.
- Não to brincando vou ser o novo Capitão.
Ele pula me abraçando;
- Aí não dá para comemorar... – Artur bate em minhas costas.
- Porque não? – Pergunto descendo ele.
- Hugo está ai... – Ele começa a falar ajeitando a camisa.
- Mas ele está aqui todo dia.
- Não, Marcos.... Depois do almoço ele foi para casa, e falou para os pais que é gay.
- E ai?
- Parece que foi uma briga feia.
- Ah meu Deus, eu incentivei isso.... Ele está com o Wilker?
- Sim.
- Vou falar com ele. – Falo indo nas escadas.
- Amor!
- Oi.
- PARABENS. – Ele diz mandando beijo.
- Obrigado.
- Parabéns Marcos, você merece. – Alexia diz.
- Obrigado amiga.
Subi as escadas, vou no meu quarto, deixar as chaves, carteira essas coisas e trocar a camiseta com cheiro de hospital.
Bate na porta do quarto de Wilker e ele fala;
- Entra.
Empurrei a porta e os dois estavam na cama, sentados, um de frente para o outro.
Hugo me olha e eu falo;
- Artur me contou o que houve.
Ele se levantou e deu a volta na cama, veio e me abraçou, eu apertei ele e Hugo começa a chorar;
- Eu falei Marcos, igual te falei, mas não foi como imaginei. – Ele disse.
- Você fez, isso que importa, agora coloca para fora.... Isso chora.
Wilker fica meio sem graça, olhando da cama, ele se levanta, e passa pela gente;
- Vou pegar uma agua para você. – Ele desce.
Eu aproximo e sento na cama com ele, deixando Hugo chorar e colocar para fora, tudo que estava preso nele;
- Como eu queria uma família igual vocês sabe... Que apoiam e estão ao lado dos filhos as escolhas...
- Também somos severos com os meninos Hugo, mas apoiamos eles na maioria das vezes. Escute vai passar, o que está sentindo é de momento.
- Ele praticamente me colocou para fora de casa, disse que não aceita filho sujo como eu.
- Ele estava com raiva, não esperava Hugo.... Escute.... Me olhe... Wilker nos pegou de surpresa, e nós entendemos e aceitamos. Agora imagine seu pai, que não tem todo esse contato. Um dia você pegava garotas, e ele sabia disso, até conhecia algumas, pelo que me lembro e no outro você chega falando isso, é difícil para ele também.
- Mas isso não é errado.
- Não, de forma alguma. Errado sim é ele, você não, mas ele precisa agora de tempo, para entender tudo isso que está acontecendo entende.
- Marcos mas se ele não me aceitar?
- Você tem a mim, tem o Artur e Wilker, garanto que todos aqui vão te acolher e te respeitar, e enquanto ao seu pai, eu tenho pena dele, de não conseguir enxergar o filho foda que ele tem.
- Obrigado.
- Você vai dormir aqui conosco essa noite? – Pergunto a ele.
- Não, vou dormir na casa da minha tia, ela foi lá em minha casa buscar minhas coisas e ter uma conversa com meu pai. – Ele responde levantando a cabeça.
Wilker ouviu isso, e entrega a agua para ele dizendo;
- Se quiser dormir aqui, não tem problema.
- Tudo bem, estou bem. – Ele bebe a agua.
- Olha vou deixar vocês, pois tenho que tomar um banho, estou com cheiro de hospital, rsrs. E você, não importa o que dizem ou falei para você, mesmo se essa pessoa é importante na sua vida, você é mais foda que isso. – Abraço o Hugo novamente.
- Obrigado Marcos.
- E seu amigo? – Wilker pergunta.
Expliquei toda a situação que ocorreu no hospital e fui tomar um banho.
Quando me troquei, ao sair, vou ao quarto do Daniel, e depois de Nicole, isso já na hora de dormirem.
Quando desci o Artur estava lavando as taças;
- Alexia já foi? – Pergunto aproximando.
- Sim, tem plantão amanhã amor.
- Como você está? – Coloco a mão em sua cintura, beijando seu pescoço. – Sei que ficou abalado sobre o Wilker hoje. – Digo com o queixo em seu ombro.
- Eu to mal amor, não sei se consigo viver sem ele.
- Acha que ele vai aceitar?
- Ele tem que aceitar Marcos. Dimitri pode proporcionar um estudo de qualidade ao Wilker, e não posso impedir sabe, tenho que apoiar.
- Eu entendi, é que estados unidos é bem longe né.
- Sim. – Ele se vira secando suas mãos.
- Vou subir e tomar um banho também, foi um dia cansativo.
- Vai lá, vou fazer um sanduiche para comer, e vou.. vai querer?
- Não, obrigado.
Abro a geladeira procurando os ingredientes e escuto a porta da frente fechar, me levanto olhando, era o Wilker entrando. Ele me olha, fecha a porta e entra na cozinha.
Eu pego minhas coisas, coloco na bancada, e pego a frigideira no armário ao lado.
Ligo o fogão colocando ela sobre e ele sentado na bancada, com aquela cara típica dele.
Coloco manteiga, e depois passo um lado dos pães na frigideira, não suportando aquele silencio, falo;
- Vou fazer um sanduiche para mim, aceita?
Ele responde que sim, gesticulando com a cabeça, e continua digitando algo no celular.
Então começo a preparar dois sanduiches, isso leva em torno de cinco minutos, cheguei a me entreter, ele enviou uma mensagem de áudio, foi então que me liguei;
- “Mano falei com ele, dei muitas ideias sabe, mas não quis dormir aqui, foi para casa dessa tia. Sabe como Hugo é cabeça dura.”
Ele envia.
Coloquei os pratos prontos na bancada e empurro o dele por baixo de seu braço entre a pedra e o celular;
- Ele não é cabeça dura, rsrs. – Digo sorrindo.
- É sim... – Wilker deixa o celular. – Obrigado.
Pego um suco enquanto ele diz;
- Sempre dorme aqui em casa, e logo hoje que passou por isso vai sair igual um louco aí dirigindo. – Ele gesticula mostrando a rua.
Fico olhando para ele, que abre o sanduiche e tira a fatia de tomate;
- Que foi? – Wilker lambe os dedos.
- Nada é bonito o cuidado que você tem com ele. É sincero.
- Antes de qualquer coisa é meu amigo.
- Sim, você está certo.
Ele com o pão aberto, faz como o Daniel, come aos poucos, presunto, mussarela, o ovo, a folha de alface, os pães.... Na verdade, ele quem ensinou ao irmão;
- Pensou sobre a proposta do Alex? – Pergunto.
Ele olha, e responde;
- Então você já sabe?
- Dimitri trouxe ele aqui em casa. Conhece Artur, caso, seu pai apresentasse de surpresa o cara, ele faria um barraco daqueles.
Ele sorri, e diz;
- Sim, é a cara do meu pai fazer isso. – Ele fica sério. – Mas não sei se aceito.
- Relaxa você tem um tempo para pensar, e decide o que for melhor para você.
- Sem esse papo Marcos, nós sabemos sua opinião, e a de meu pai.
- Ele quer o melhor para você, e acredite, se sua resposta for sim, ele vai sofrer, e muito.
- Eu sei. Mas..., mas despois de nossa conversa eu fiquei mais livre, e sei que se eu for aceitar, ele vai entender.
- Nossa conversa? – Questiono.
- Minha, sua, Artur e Dimitri.
- Ah sim.
- São vítimas iguais a mim.... Não entendi muito bem o porque você não disse isso logo de primeira, eu fui um merda com você por todo esse tempo.
- Eu não sabia a razão, para mim, era a idade.
- É você está certo!
- Wilker, eu poderia muito bem fazer o papel do padrasto malvado, e ser bem filho da mãe quando se trata de você. mas eu aguentei as brincadeiras, aguentei seus olhares e julgamentos porque acima disso, a única coisa que queria era proteger seu pai. Você e Artur tem uma ligação que acredito ser de outra vida, não há outra explicação.
- Ele é meu pai.
- Ele é mais que seu pai, é sua alma gêmea. Queria de coração que você tivesse ideia o amor que ele tem por você.
Ela abre um sorriso e fala;
- Às vezes acho que ama mais o Daniel, assim como você.
- O Daniel detém mais cuidados, damos mais atenção para ele, é involuntário, está em fase de formação. Você e sua irmã são praticamente adultos... posso não ter falado diretamente, mas me orgulho do homem que você se tornou, e seu pai mais ainda.
- Está tentando me comprar com elogios é Marcos? – Ele termina seu sanduiche.
- Não, não preciso, sei que você está diferente.
- Desde o primeiro dia que entrou em nossas vidas, você respeita ele, você ama ele na mesma intensidade. Artur não vive sem você.... É impossível ver meu pai seguir a vida sem você do lado. Você cuida, ama e protege ele, essa era parte de minha raiva, pois eu não conseguia fazer tudo isso. Tinha ciúmes, pois não conseguia ser 1% do que você era e é para ele.
- Uau, nunca imaginei ouvir isso de você.
- Se eu me mudar para os Estados Unidos, sei que vou deixar ele e meus irmão seguros e protegidos. Pois você vai estar com eles.
- Wilker, eu dou minha pelo seu pai, pelo seu irmão, pela sua irmã, e por você.
Ele fica meio que calado, de cabeça, baixa, passa a mão no rosto próximo aos olhos.
Eu dou a volta na bancada, aproximo de seu lado, ele se vira vagarosamente na cadeira, e me abraça.
Eu aperto ele, sentindo aquele abraço quente e acalantador de Wilker.
Respirei fundo.
Uma.
Duas.
Três vezes.
As lagrimas transbordando nos olhos, e eu segurando;
- Eu precisava disso. – Falo me referindo ao carinho dele.
- Me promete que vai cuidar dele... Jura pela sua vida que nunca vai deixar ele... – Wilker diz dentro dos meus braços.
- Você se esqueceu só de uma coisa. – Eu afasto seu corpo do meu. – Wilker minha vida se resume a ele, eu amo o seu pai, ele é e sempre será o amor da minha vida... Só Deus para mudar isso.
Limpo a lagrima de seu olho, e escutamos o choro de Artur de lado.
Vermelho, já todo inchado. Eu estico a mão e ele vem igual um cachorrinho carente;
- Eu esperei tanto ver vocês dois... – Juro que Artur terminou a frase, mas quando abraçou a gente eu não entendi mais nada.
Ele passava a mão no cabelo do Wilker, dizendo;
- Eu te amo querido, tanto, tanto. – Falava e beijava o garoto.
Comigo fazendo o mesmo. Eu segurei minhas lagrimas, Wilker se emocionou naquela hora, mas o Artur com duas taças de vinho estava chorando como em um velório.