- @rgpatrickoficial
Laços - Capitulo 6 – Aquele com o pressentimento
Na corporação, estava de frente meu armário, colocando as algemas, arma, no cinto, e o Fausto chega;
- Bom dia.
- Bom dia.
Ele faz o mesmo, se trocando, e se preparando;
- Dormiu aqui foi?
- Não, mas cheguei mais cedo.
Ele para e olha;
- Aconteceu algo?
- Não, porque?
- Você não está bem!
- Como assim?
Ele fica me olhando, tipo no fundo dos olhos, sem me responder;
- Eu não sei ao certo, mas as coisas não se resolvem se não houver conversa, se recusar a ouvir não é a saída.
- Que história é essa Fausto? Porque está me dizendo isso?
- Eu só achei que precisava ouvir, só isso. Está tudo bem mesmo em casa?
- Aham! – Respondo deixando ele desconfiado.
Mas confesso ficar assustado, com sua atitude, de saber ou ser sensível a esse ponto.
Saímos para trabalho, seguindo a ronda, normalmente, fazendo algumas abordagens.
Próximo ao fim do dia, já voltando para a corporação, passando por um dos bairros meio perigosos da capital. Um suspeito ao ver as motos sai correndo, eu perdi a visão, mas avisei Fausto;
- Camisa branca, bermuda azul correu para a direita, fica atento.
Virei a esquina tinha dois garotos, disfarçando, andando normalmente;
- Mão na cabeça. – Aponto a arma. – Se correr eu atiro. – Falo pelo garoto já ter feito antes.
Fausto desce atrás enquadrando o segundo garoto;
- Deita no chão devagar. – Falo ainda na moto.
Fausto desce e se aproxima, só então eu desço;
- Faz o limpa aí, que eles podem ter jogado fora. – Falo me referindo a droga.
- Limpos.
- Beleza.
Falo me afastando e olhando pela rua, e calçadas, onde eles passaram, procurando algo.
Voltei e o Fausto estava falando com eles;
- Quantos anos você tem? – Falo ao garoto mais novo.
- Quinze.
- Está vendendo quanto tempo?
- Não vendo nada não senhor.
- Quanto tempo?
- Comecei hoje.
- Que sorte em, diz ai onde escondeu a maconha?
- Não tem maconha não.
- Cocaína?
- Não senhor. Tem nada não.
Então uso a tática da polícia, para tentar tirar informações deles;
- Fausto, pode grampear, mais dois para a conta.
- Calma! Calma senhor vamos negociar. – O garoto mais velho começa a se levantar.
- Quer negociar? Fica aí no chão, levanta não!
Ele mostra onde estava a cocaína. Debaixo de uns tijolos do outro lado da rua, havia também uma porção de maconha.
- Senhor, leva preso não! – Ele ficava repetindo.
- Segura aí, que vou dar uma procurada, tem mais. – Falo me afastando.
Acho mais uma porção de dinheiro, eram R$ 210,00 reais.
- Central solicito apoio, equipe no patrulhamento, apreensão de indivíduos com entorpecentes. – Falo no rádio.
- Copiado! Quantos suspeitos?
- Dois Central.
- A caminho.
- (...) começo a trabalhar amanhã senhor.
- Deveria ter começado hoje filho, pois agora é tarde. – Fausto conversava com ele. – Tem ficha, já foi parado, e detido. O menor também já foi abordado. – Ele me explica.
Até o apoio a gente conversava com eles, para informações e saber mais como funciona.
- Posso ir hoje, amanhã eu to na rua de novo senhor. – O de menor fala.
- Pode sair amanhã, mas nós te pegamos novamente! Assim até completar dezoito anos, ou até o crime te passar.
- Vamos se encontrar então senhor.
- Escuta, pode ser de menor, mas conversa igual a homem. E chega de papo para vocês dois, já resolvemos o que tinha que resolver, calado os dois.
A viatura chegou e colocamos eles no veículo.
- Parabéns para nós aí Fausto. – Cumprimento ele.
A viatura vai saindo, e ele coloca o capacete;
- Ainda não me acostumei com isso.
- Não somos nós que fazemos mal a eles, são eles mesmo, estamos cumprindo a lei, o nosso trabalho.
- Exatamente isso que tenho dificuldade.
- Vamos?
- Sim.
Seguimos dando apoio a viatura, e terminamos o dia com papelada.
E no caminho para casa, fui com o que o Fausto havia me dito, martelando na cabeça.
Quando cheguei, parei o carro já vendo estar todos em casa. Entrei e o Daniel estava na TV, na sala;
- Ei garotão. – Beijo sua testa.
- Oi Pai.
- Está aí desde que horas em?
Ele não responde fica rindo;
- Fala seu safado!
- Depois do almoço.
- Quando terminar esse filme, para o banho em.
-Tabom.
Subi as escadas e vejo o quarto do Wilker de porta aberta, isso é quase impossível de se ver dentro dessa casa.
De frente fica o quarto do Daniel, o meu e de Artur e depois no final o de Nicole, com a porta ao lado da nossa.
Quando vou entrar vejo a porta do quarto dela entre aberta, e escuto a voz dele lá dentro;
- (...) foi muito mais feio que eu... Mas eles só ficaram bravos ontem, isso passa.
- Estou péssima Wilker, não passou pela minha cabeça que aconteceria tudo isso, e que eles ficariam tão mal. Eu fui muito idiota.
- Sim, muito rsrs.
- Cala a boca.
- Eu já falei com eles.
- Você?
- Sim, do meu jeito. Mas cabe a você pedir desculpas.
- Mas eu já pedi.
- Não, você pediu porque seu pai mandou, fala com um, depois fala com outro. Cara o que você passa com suas amigas eu nasci passando por isso. Eu não sou gay, mas sei o que eles passam, pois sempre ouvi isso. E acredite o mesmo que sente quando é chamada de sapatão pelas meninas da sua sala, é o sentimento que eles tiveram ontem.
- Eu vou falar com eles.
- Isso mesmo, e sobre as meninas eu não sabia.... Vou ver se consigo te ajudar.
- Rsrs, valeu!
- (...). Não, sai fora, ainda não estou para abraço.
- Seu fresco. – Ela fala enxugando lagrimas.
Percebo que ele estava saindo e entro, fechando a porta do meu quarto.
Nesse momento o Artur sai do banheiro, de toalha e cabelo molhado. Me encarando e não diz nada;
- Acho que fui muito severo com a Nicole. – Falo olhando ele.
- Só com ela? – Artur diz entrando no closset.
Deixei o celular, e as chaves;
- Eu errei, me desculpa.
- Ontem não reconheci o Marcos que eu me casei.
- Artur me perdoe, errei com minha filha, e com você. – Falo sentado na cama.
- Decidimos juntos adotar o Daniel. Decidimos juntos casar, e morar juntos. Sabe como fazemos isso? Conversando, eu não falei com você, passei por cima de sua palavra com sua mãe. Também errei.
Me levantei e abracei ele, Artur corresponde envolvendo os braços em minha cintura e dizendo;
- Eu te amo tanto que só uma discussão nossa acaba com meu dia.
- Desculpa amor. Desculpa.
Ufa!
Bem eu tomei um banho, o Artur desceu para adiantar o jantar, e depois eu.
Quando estava no fim das escadas a Nicole havia terminado de conversar com ele, aproveitaram estar a sós e conversar;
- Aqui. – Devolvo o celular dela.
- Mas... estou de castigo. – Ela fala segurando o aparelho.
Me sento do seu lado no banco frente a ilha da cozinha, Artur cozinhando em nossa frente;
- Não está mais!
- Pai desculpa, eu não sabia...
- Não precisa se desculpar mais, sei que está mal e pensando sobre. Escute o que fez, eu e Artur passamos quase que diariamente. Não somos reconhecidos pelo nosso trabalho e resultados, as pessoas olham e julgam, sempre taxados como casal gay. Os gays do condomínio, o gay da corporação, o gay do hospital. Minha filha a gente luta todo santo dia para provar o que não tem necessidade de mostrar. A maioria das vezes Nicole, mesmo depois de mostrar que é capaz de fazer o que o outro faz, ainda sim somos confrontados e questionados.
- Eu não sabia pai.
- Sim, estou te explicando.
- É uma luta diária e sem fim querida. – Artur diz.
- Mesmo sendo bem-sucedido ainda acontece com você? – Ela pergunta a ele.
- Sou Cirurgião Cardíaco, tenho muitos reconhecimentos e dizem ser o melhor do estado. Temos a nossa casa, na luta para abertura da minha clínica, entre outras conquistas. Mesmo assim, sou questionado pelas pessoas como consegui chegar aqui, e acredite, por ser negro, e não por ser gay.
- Entendi.
Conversamos bastante com ela, até o Daniel chegou e também entrou na conversa.